Há dois dias a Santa Casa informou que estava fechando às portas para novos pacientes devido à superlotação, mas o alerta não foi atendido e na terça-feira (25), médicos do setor de ortopedia foram à polícia. Em boletim de ocorrência, eles afirmam que não há insumos para cirurgias e 70 pacientes correm risco de morte ou sequelas graves.
Conforme o registro policial, três médicos e um advogado estiveram na delegacia para registrar um BO de preservação de direito, onde relatam falta de condições de trabalho. Segundo eles, no momento não existe nenhum material ortopédico disponível para a realização de cirurgias de urgência e emergência.
Chefe do setor de ortopedia da Santa Casa, o médico João Antônio Pereira Mateus relatou à polícia que o hospital tem 70 pacientes que estão em situação iminente de morte e/ou sequelas, devido à falta de insumos e próteses para cirurgias
Eles afirmam que apesar do ofício emitido na segunda-feira (24), os pacientes não param de chegar, mas o setor de ortopedia colapsou. ‘Não dá mais’, disse o médico à polícia. Ainda conforme o especialista, faltam itens, pois a Santa Casa está em dívida com os fornecedores e outros setores sofrem com a mesma situação.
A Santa Casa de Campo Grande é referência em atendimento de ortopedia e recebe pacientes dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, mas tem problemas recorrentes de dívidas.
No dia 17 de março, foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul para discutir a crise dos Hospitais Filantrópicos, com foco nas dificuldades enfrentadas pela Santa Casa de Campo Grande. Na data, o hospital apresentou documentos que comprovam déficit líquido significativo de R$ 13,23 milhões mensais, o que equivale a R$ 158,85 milhões anuais.
Segundo a Santa Casa, não há reajuste financeiro desde 2022, o que ocasionou desequilíbrio econômico-financeiro e a crise atual. O documento de contratualização com a prefeitura de Campo Grande venceu em meados de 2024 e, desde então, há uma negociação para a elaboração de um novo documento.
Em comunicado, a Santa Casa de Campo Grande informa que conseguiu, perante a Justiça, o repasse imediato de mais de R$ 46 milhões na tarde de terça-feira (25). O hospital informa que passa sérias dificuldades financeiras, com riscos iminentes de interrupção total de seus atendimentos hospitalares.
Ainda conforme a Santa Casa, a situação decorre, também, do não recebimento de verbas reconhecidas judicialmente, referentes a repasses financeiros da União realizados durante a pandemia de Covid-19 em 2020, e que permanecem pendentes de recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Os problemas da Santa Casa chamaram a atenção do CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de MS) que, na terça-feira (25), emitiu nota oficial onde afirma que está acompanhando “de perto” a situação e, no momento, manifesta profunda preocupação com os impactos diretos na saúde da população
Segundo o texto, o presidente do CRM-MS, Carlos Idelmar de Campos Barbosa, informou que é “imperativo que todas as medidas necessárias sejam tomadas para garantir um atendimento de qualidade aos pacientes. Estamos unindo esforços com os gestores da saúde e da Santa Casa para buscar providências efetivas e imediatas neste momento de crise”.
É só chegar na segunda quinzena de março, que o caos toma conta da saúde de Mato Grosso do Sul. Unidades de saúde lotadas, pacientes esperando vagas em hospitais, falta de leitos em UTI, plano de contingência e colapso na saúde. O cenário é bem conhecido dos profissionais por ser sazonal, mas o cerne do problema é o mesmo: faltam leitos hospitalares.
A realidade é que existe apenas um leito em hospital para cada 607 pessoas em Mato Grosso do Sul. Bem longe do recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), de 3 a 5 leitos para cada mil habitantes. Conforme dados do Ministério da Saúde, são 6.690 leitos existentes em todo o Estado, dos quais 4.556 leitos são de atendimento público, via SUS.
Há anos, especialistas afirmam que o grande problema é a falta de hospital público municipal em Campo Grande, já que a demanda da Capital ‘disputa’ espaço com pacientes do interior na Santa Casa, Hospital Regional e Hospital Universitário. Assim, as unidades de saúde (UPAs e CRS) acabam sendo alternativas.