Dom Feliciano Acuña, de 52 anos, morreu após caminhar cerca de 45 quilômetros em busca de atendimento médico no Chaco paraguaio. O trabalhador rural começou a sentir fortes dores e desconforto enquanto atuava em uma fazenda da região, realizando trabalhos de esgrima.
Preocupado com seu estado de saúde, Dom Feliciano decidiu se deslocar até a Colônia María Auxiliadora, no Alto Paraguai, onde esperava ser resgatado por helicóptero. A área onde estava é completamente alagada e só pode ser acessada por via aérea.
— A área está completamente alagada, sem saída a não ser por via aérea. Mas como o helicóptero não decolava, os trabalhadores, incluindo Don Feliciano, decidiram atravessar a água e a lama. O patrão providenciou um trator e um cavalo, mas foi impossível passar — relatou Simeona Brítez, secretária do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Rurais do Paraguai e Afins.
Sem alternativas, o grupo percorreu a pé um trajeto de 45 quilômetros até chegar à Colônia María Auxiliadora. Lá, aguardaram durante alguns dias o resgate aéreo com destino a Fuerte Olimpo, onde esperavam obter atendimento médico. Contudo, na noite de quinta-feira, Dom Feliciano teve uma piora repentina.
Conforme o boletim da Delegacia de Polícia nº 4, o trabalhador estava hospedado na casa de uma moradora local, que pediu socorro ao perceber que ele começou a sangrar pelo nariz e pela boca. Infelizmente, ele morreu poucos minutos depois.
Uma enfermeira do posto de saúde local examinou o corpo e indicou infarto agudo do miocárdio como provável causa da morte. Segundo familiares, ele era hipertenso e fazia uso contínuo de medicamentos para controle da pressão arterial.
A situação no Chaco é crítica. Além das enchentes que isolaram a região, há relatos de fome e desespero entre os moradores.
— As enchentes no Chaco não são pouca coisa; já tem gente passando fome porque os alimentos não chegam devido às estradas difíceis. Temos uma pessoa desaparecida que pede ajuda para ser resgatada há seis dias, e não tivemos contato com ela desde ontem — relatou Simeona Brítez ao jornal Extra.
O problema é agravado pela falta de energia elétrica. A população está há mais de 48 horas sem luz em meio ao isolamento total. A Governadoria do Alto Paraguai publicou em sua página do Facebook que a situação é desesperadora. O governador Arturo Méndez explicou que a interrupção no fornecimento de energia foi causada por uma falha em uma linha da ANDE, mas os técnicos ainda não conseguiram acessar a área devido aos alagamentos.
Mais de 3.000 pessoas estão afetadas nas localidades de Fuerte Olimpo, San Carlos, María Auxiliadora e Bahía Negra, onde alimentos e assistência humanitária não conseguem chegar. Em um dos casos mais urgentes, um bebê de apenas 1 ano, com problemas de saúde, precisou ser evacuado de helicóptero com a mãe e outros quatro moradores.
A tragédia de Dom Feliciano Acuña expõe a vulnerabilidade dos trabalhadores e comunidades do interior do Paraguai, esquecidos diante de uma emergência humanitária cada vez mais grave.