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Cheia do Rio Paraguai põe em teste obra da rota bioceânica

Rio atingiu 5,72 metros e Porto Murtinho e alagou boa parte do trecho de 13 quilômetros do ramal de acesso entre a BR-267 e a cabeceira da ponte.

Redação
Por: Redação Fonte: Correio do Estado
05/05/2025 às 22h10 Atualizada em 06/05/2025 às 12h35
Cheia do Rio Paraguai põe em teste obra da rota bioceânica
As águas do Rio Paraguai se esparramaram no lado brasileiro e estão tomando conta de boa parte do trecho por onde está sendo construído o ramal rodoviário de 13 quilômetros entre a BR-267 e a cabeceira da ponte sobre o Rio Paraguai. (Foto: Toninho Ruiz)

Depois das chuvas intensas que atingiram a região sudoeste de Mato Grosso do Sul e boa parte do Paraguai durante a Semana Santa, o nível do Rio Paraguai chegou a 5,72 metros em Porto Murtinho, no último sábado (3). Após isso, recuou dois centímetros, ficando em 5,70 metros nesta segunda-feira (5).

Além de invadir dezenas de residências do lado paraguaio, na Ilha Margarida, as águas do Rio Paraguai se espalharam pelo lado brasileiro e estão tomando conta de boa parte do trecho onde está sendo construído o ramal rodoviário de 13 quilômetros, entre a BR-267 e a cabeceira da ponte sobre o Rio Paraguai.

De acordo com Toninho Ruiz, jornalista de Porto Murtinho que acompanha de perto as obras e a alta no nível do rio, parte dos pilares já instalados nos trechos mais baixos da alça de acesso à ponte está com 1,8 metro submerso.

Durante os últimos dias de abril, foram registrados cerca de 450 milímetros de chuva na região. Tanto os rios do lado paraguaio quanto do lado brasileiro, que desembocam no Rio Paraguai, transbordaram. Depois disso, o próprio Rio Paraguai subiu e, agora, está represando a água de rios como o Amonguijá e o Criminosa.

É justamente a água desses dois rios que se espalhou, e parte da região onde estão sendo construídos os 13 quilômetros da alça de acesso à ponte está submersa. Mesmo assim, segundo Toninho Ruiz, os cerca de 350 operários seguem trabalhando nas regiões onde o terreno é mais alto.

Imagens feitas por drone, pelo jornalista Toninho Ruiz, mostram dezenas de imóveis do lado paraguaio tomados pela água. Segundo ele, porém, essas casas e estabelecimentos comerciais já estão sobre palafitas e adaptados para enfrentar as cheias.

Com 5,72 metros, a cidade de Porto Murtinho não corre risco de ser alagada, pois, desde 1982, está protegida por um dique de 11 quilômetros, que somente é superado se o nível do rio chegar a 10 metros — o que nunca ocorreu.

Porém, quando o nível ultrapassa 5,35 metros, a água já alcança o nível da área urbana, e duas comportas, por onde escoa a água da chuva, precisam ser fechadas para que o rio não invada a cidade. A partir daí, toda a água da chuva precisa ser drenada por duas bombas elétricas, a fim de evitar alagamentos.

Do lado paraguaio, no entanto, quando o nível passa de 5,30 metros, praticamente todos os cerca de 80 imóveis da Ilha Margarida ficam tomados pela água, explica Toninho Ruiz.

No ano passado, o nível máximo do rio em Porto Murtinho foi de apenas 2,29 metros. O mínimo, por sua vez, foi de apenas 53 centímetros — um dos mais baixos já registrados na região.

OBRA DA PONTE

No local da ponte, às margens do Rio Paraguai, as construtoras se precaveram quanto às possíveis cheias e construíram uma espécie de dique. Por conta disso, a água não atingiu o canteiro de obras, e os trabalhos seguem normalmente.

Do lado brasileiro, a torre de 130 metros já está concluída, e agora começou a fase do chamado trem de avanço, que é a colocação dos cabos de aço e das primeiras vigas de concreto sobre o leito do rio.

Do lado paraguaio, essa torre está em 86 metros, já que apresentou defeito e oito metros tiveram de ser retirados. A partir desta segunda-feira, porém, os trabalhos de reconstrução foram iniciados.

A obra da ponte, do lado brasileiro, iniciou nas primeiras semanas de 2023. Ainda durante o período de preparação do canteiro de obras, o nível do rio chegou a 5,94 metros, em 8 de março.

As obras da alça de acesso, porém, começaram somente em setembro do ano passado, e esta é a primeira vez que a região enfrenta uma cheia. Ou seja, é a primeira vez que a obra passa por um teste para avaliar se resiste a um longo período de alagamento.

Em 2023, a água demorou cerca de dois meses para retornar à calha principal do Rio Paraguai. Agora, como o Rio Miranda — que deságua no Paraguai, acima de Porto Murtinho — também está cheio, e em Ladário o nível do rio continua subindo, a tendência é que a cheia seja ainda mais prolongada.

As obras do complexo aduaneiro e do trecho de 13 quilômetros de rodovia, que interligará a BR-267 à ponte sobre o Rio Paraguai, estão orçadas em R$ 472 milhões e são executadas por um consórcio de empreiteiras de outros estados.

A previsão inicial é de que os trabalhos se estendam por dois anos. A meta é que, ainda antes do final de seu terceiro mandato, o presidente Lula venha a Porto Murtinho para inaugurar tanto a alça de acesso quanto a ponte.

Os R$ 472 milhões estão sendo bancados integralmente pelo governo federal. A obra da ponte, que deve custar pouco mais de meio bilhão de reais, está sendo financiada com recursos da hidrelétrica de Itaipu.

O resultado da licitação das obras de acesso foi oficializado pelo DNIT em 16 de novembro do ano passado. O vencedor foi o consórcio denominado PDC Fronteira, formado pelas empreiteiras Caiapó, Paulitec e DP Barros, de Goiás e São Paulo, que venceu por oferecer o menor preço.

ALTO CUSTO

Mas o que explica esse alto valor para uma obra de apenas 13 quilômetros de asfalto e que também prevê a construção de uma estrutura aduaneira? Conforme a proposta vencedora, o item mais caro será a terraplanagem, que consumirá impressionantes R$ 145,9 milhões.

A obra está sendo realizada no meio do Pantanal, região sujeita a inundações pelo Rio Paraguai. Por isso, os 13 quilômetros terão de ser construídos parcialmente sobre uma espécie de dique, para ficar acima do nível das possíveis inundações.

Em outra parte — justamente a que agora está submersa — a rodovia ficará sobre pilares, o que permitirá o escoamento das águas em períodos de cheia, que, em alguns anos, se estendem de janeiro a julho.

A cidade de Porto Murtinho, por exemplo, é protegida por um dique de 11 metros de altura, construído após uma grande cheia em 1982, quando boa parte da cidade ficou submersa. Depois disso, na maior cheia registrada — a de 1988 —, quando o nível do Rio Paraguai atingiu 6,64 metros na régua de Ladário, a cidade ficou a salvo por causa dessa barragem.

E não é somente a estrada que terá de ser construída em terreno elevado. O aterro também abrigará toda a estrutura da aduana. E é exatamente esse centro aduaneiro que terá o segundo maior custo do projeto. Dos R$ 472,4 milhões, um total de R$ 126,6 milhões será destinado exclusivamente a essa estrutura.

Outro item do edital que chama a atenção são as chamadas “obras de arte especiais”, que vão consumir R$ 101,5 milhões. O edital não especifica exatamente quais serão essas obras.

Parte desse valor, no entanto, deve ser destinada à construção de uma grande área de estacionamento para caminhões, considerando a previsão de que centenas de veículos de carga passem diariamente pela Rota Bioceânica, vindo ou indo para o Paraguai, Argentina e Chile.

Somente esses três itens — terraplanagem, aduana e obras de arte — consumirão 79,2% do montante total da obra. Ainda conforme a licitação, a pavimentação propriamente dita dos 13 quilômetros custará “apenas” R$ 23,3 milhões, o que corresponde a 4,9% do custo total.

A ponte sobre o Rio Paraguai terá 1,3 mil metros de extensão, e cerca de 70% dos trabalhos já estão concluídos. Por conta do atraso de seis meses no início das obras de acesso, é provável que a ponte fique pronta antes da via de ligação.

Devido às cheias, o projeto de engenharia prevê a construção de seis pontes de concreto para garantir a vazão da água.

ROTA

A Rota Bioceânica é um corredor rodoviário com extensão de 2,4 mil quilômetros, que ligará os dois maiores oceanos do planeta — Atlântico e Pacífico —, partindo do Brasil e chegando aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando pelo Paraguai e pela Argentina.

O projeto, que começou a ser debatido em 2014 e iniciou em 2017, tem como promessa ampliar a relação comercial do Estado com países asiáticos e sul-americanos.

Conforme estudo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), os custos para o envio da produção sul-mato-grossense serão reduzidos, além da diminuição no tempo de viagem, que poderá ser encurtado em até 17 dias rumo ao mercado asiático.

A Rota Bioceânica, conforme os mais otimistas, terá potencial para movimentar US$ 1,5 bilhão por ano em exportações de carnes, açúcar, farelo de soja e couros para os países por onde passará.

O Correio do Estado procurou o consórcio responsável pelas obras do contorno rodoviário em busca de informações sobre um possível atraso no cronograma, em razão da cheia do Rio Paraguai, mas, até a publicação da reportagem, não obteve retorno.

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