“Minha mãe era meu xodó e eu era o xodó dela”. A frase resume a dor do filho de Eliana Guanes, de 59 anos, que morreu na Santa Casa de Campo Grande após ter o corpo incendiado pelo capataz de uma fazenda, na região do Pantanal da Nhecolândia, zona rural de Corumbá, área de difícil acesso.
A vítima trabalhava como camareira na propriedade desde 2022 e, segundo o filho, Eliana era viúva há 17 anos. “Desde que meu pai faleceu, ela nunca mais teve relacionamento nenhum”, contou. Ele afirmou ainda que o autor, identificado como Lourenço Xavier, de 54 anos, não tinha qualquer tipo de vínculo com a mãe. “Nunca vi ele na vida", afirmou.
Abalado, o jovem de 29 anos, que pediu para não ser identificado, falou com o a reportagem, nesta manhã na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol (Centro Especializado de Polícia Integrada), enquanto fazia a liberação do corpo da mãe.
Ele relembrou que já havia alertado Eliana sobre os riscos de continuar trabalhando na fazenda. “Eu sempre falava: não volta, não volta. Toda vez ela tinha desavença, de peão ficar bêbado e dar em cima", lamentou. O rapaz confirmou que a mãe já havia sofrido episódios de assédio no local e criticou a negligência da administração da propriedade.
Emocionado, disse que a mãe era tudo o que lhe restava. “Meu irmão faleceu há três anos por causa natural. Era só eu e minha mãe, único laço de sangue que me restava. Agora que ela se foi, eu não tenho praticamente ninguém”, disse.
Com dificuldades financeiras, o jovem ainda não sabe como será feito o velório. “Nossa família é distante. A rede de apoio dela era eu”, destacou. Eliana foi socorrida de avião pelo Corpo de Bombeiros após o ataque, ocorrido na tarde de sexta-feira (6), mas não resistiu às queimaduras e morreu horas depois. O capataz, suspeito pelo crime, foi preso em flagrante.
Em entrevista ao Diário Corumbaense, o delegado explicou que o autor do crime, teria se irritado após ter uma proposta de relacionamento recusada pela vítima. “Algumas informações iniciais e áudios que tivemos acesso dão conta de que ele teria proposto um relacionamento à vítima, mas ela disse não. Ele não aceitou e, por esse motivo, ateou fogo nela. Por esse menosprezo ao gênero da mulher, à condição de mulher, o crime se enquadra como feminicídio, sim, apesar de não haver relação íntima ou familiar entre eles”, afirmou.
Caso - Eliana sofreu queimaduras de 2° e 3° graus e teve 90% do corpo atingida depois de Lourenço jogar gasolina e atear fogo nela. O crime ocorreu por volta das 14h de ontem. Equipes do Grupamento de Operações Aéreas e Unidade de Resgate e Suporte Avançado do Corpo de Bombeiros Militar, realizaram o transporte da vítima em um avião, mas ela chegou à Santa Casa da Capital sem sinais vitais. O óbito foi confirmado às 23h30.
Na rede social, o Grupamento de Operações Aéreas informou que realizou pela primeira vez na história um resgate aéreo noturno no Pantanal.